Dia 13, segunda feira, faz sol e calor.
De Garanhuns à Paulo Afonso, três horas de carro, no meu ritmo.
A paisagem é marcada pela lógica do mercado e sua urgência por maquinarias.
Mover motores exige moldar a paisagem.
Rio vira lago, serra vira plantação de hélices gigantes.
É bonito, necessário, mas...
Paulo Afonso, a cidade, tem parques agradáveis, tento desfrutar, mas o rescaldo do dia anterior se apresenta.
Corpo cansado, pelo desacostume das horas no carro e pelo excesso no morro da vulva carmim e dos cristais roseos.
A cabeça em dúvida: vou até Canudos ou sigo direto para o Sul?
Sul, que no caso ainda é norte da Bahia.
Tento aferir penas e danos, ganhos e desfrutes.
Navegando na rede (bendita máquina e a energia que a torna possível), busco informações sobre o Parque Estadual de Canudos.
Sou tomada pela poesia de imagens em totens de vidro. Rostos com semblante imponente e olhos que vaticinam: "Vocês não nos esquecerão!".
Se tais olhos lá existiram e resistiram, se houve quem os registrasse e preservasse, se há quem os exponha no local onde foram assassinados, haverá também quem lhes ofereça o olhar.
Dia 14, acordei energizada pelo desejo de ser um desses.
Fui, por homenagem ou por um incontrolável vício.


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