ARRIBAÇÃO 1 - arriba, por amor à arte
12 de maio, dia das mães. Decidi arribar, já passava da hora.
Saí de Recife às 8,50 h, o aplicativo de rotas para a Usina de Arte Santa Terezinha
0 aplicativo começou a tocar Apaga o fogo, mané - do Adoniran Barbosa.
Decidi ouvir, sempre achei que o nome dessa música deveria ser Agora a Inês é viva!
Acho divertida a letra sobre o pé na bunda que ela deu, narrada pelo alvo.
Inês me fez pensar em Santa Terezinha:
quem foi essa?
Li depois que foi uma adolescente que pegou leve nas
obrigações e argumentou
que não é preciso se arrebentar
para encontrar o sentido do sagrado.
Garota esperta.
Chego a usina às 11,05 h, sol a pino.
Quase meto o carro no meio do jardim,
culpo a sinalização pouco empática e
a ausência de funcionários para orientar.
Já fica aqui o resumo: sem recepção, sem
monitoria e sem pessoal de apoio.
Banheiro, só lá no final de tudo,
fiquei sabendo no final do percurso.
Iniciei a visita com a bexiga estourando,
banhada em protetor solar,
com uma garrafa de água e de chapéu.
Trilheira precavida, minha sorte.
Sorte nada, é auto cuidado mesmo.
Começo a subir e realmente não há pontos
de apoio com água e banheiros.
O calor aperta, a bexiga cheia, chia.
E a água da garrafa acaba
Mas, nada impede uma devota das santas das artes visuais
de atingir seu sacro fetiche estético poético feminista.
Início a caminhada mirando na vulva,
que domina a paisagem do parque,
e no muro de pedras rosas que dominava meu imaginário
povoado pelas redes sociais
com relatos da mais recente aquisição do parque.
Subo vielas de lajotas, sem sinalização;
sigo o rumo da Diva, imponente fenda carmim.
Caminho com toda a fé que chegaria a tão esperada
parede cravejada de cristais.
Percorro as centenas de metros morro arriba,
como um devota que não ignora as agruras da auto imposta
penitência.
Chego ao cume,
suando como uma sulista no nordeste
e torcendo para que o Generador
de fato tenham em mim algum efeito catártico
que recomponha os sais minerais evaporados de
minhas reservas.
Nele deposito minhas gotas de suor.
Arte que se oferece ao toque é puro orgasmo,
pensando nisso, me envolvi no jogo proposto e me
rendi ao rito: esfreguei minha virilha, meus peitos e minha testa
na coluna de cristais que me oferecia amanho compatível.
Senti-me pequena, jurava ser mais alta.
Feita a experiência, olho para o que a contra face da parede convoca:
assim como ela pode ser vista de longe, dali pode se ver todo parque.
Se impõe como vista e ponto de vista.
Na caminha de volta não pude deixar de pensar:
terá a artista, os curadores e os proprietários
vindo até aqui seguindo o mesmo rito
corporal imposto a quem deseja usufruir de sua criação?
Pensei na terezinha que não suava
e na Inês que entornou o balde...
Ao sair, me detive na cabeça flutuante ,
e uma vez mais na onipresente visão da vulva flamejante.
Mas, me apaixonei mesmo pela Rádio Catimbó,
dela senti um profundo desejo de me oferecer abrigo do sol.
Muitas famílias foram ao parque naquele dia quente,
celebrar o o dia das mães.
Algumas mães, ficaram sentadas sob as árvores,
evitado subidas naquele calor. Sábias senhoras.
Apesar da ausência de apoio e monitoria,
eu gostei e pretendo voltar, com mais tempo,
agora que aprendi onde tem banheiro e
certamente levarei mais água.
No caminho de saída, um vendedor de sorvetes
me disse onde havia um banheiro, único e não sinalizado
Também me orientou como ir ao restaurante mais próximo,
um agradável bar em uma residência familiar.
Almocei entre famílias em festa pelo dia das mães e subi a serra.
Em Garanhuns cheguei as 15,30h,
circulei próximo ao Centro Cultural, tomei uma cerveja que ninguém é de ferro.
ARRIBAÇÃO 2 - energias: eólicas, hidroelétricas e poéticas
Dia 13, segunda feira, faz sol e calor.
De Garanhuns à Paulo Afonso, quatro horas de carro, no meu ritmo.
A paisagem é marcada pela lógica do mercado e sua urgência por maquinarias.
Mover motores exige moldar a paisagem.
Rio vira lago, serra vira plantação de hélices gigantes.
É bonito, necessário, mas...
A cidade, tem parques agradáveis,
tento desfrutar, mas...
corpo cansado, pelo desacostume das horas no carro e
pelo excesso no morro da vulva carmim e dos cristais roseos.
A cabeça em dúvida: vou até Canudos ou sigo direto para o Sul?
Sul, que no caso ainda é norte da Bahia.
Tento aferir penas e danos, ganhos e desfrutes.
Navegando na rede (bendita máquina e a energia que a torna possível), busco informações sobre o Parque Estadual de Canudos.
Sou tomada pela poesia de imagens em totens de vidro. Rostos com semblante imponente e olhos que vaticinam: "Vocês não nos esquecerão!".
Se tais olhos lá existiram e resistiram, se houve quem os registrasse e preservasse, se há quem os exponha no local onde foram assassinados, haverá também quem lhes ofereça o olhar.
Dia 14, acordei energizada pelo desejo de ser um desses.
Fui, por homenagem ou por um incontrolável vício.
De Paulo Afonso à Canudos a Estrada do Vaqueiro é ótima, uma estadual muito bem cuidada e sinalizada. Valeu governo da Bahia. Viagem agradável e tranquila.
No trajeto ouvi muito Rita Lee e Elis, as melhores inspiradoras para mulheres na estrada. Lá pelas tantas decidi ouvir um ícone da contra cultura então, toca Raul. Mas olhem só o que que me pintou na cabeça ao ouvir O dia em que a Terra Parrou: na letra, a única atividade citada ocupada por uma mulher é... dona de casa. Nenhuma outra profissão no feminino, tudo o que parrou foi obra de entes no masculino. Caramba, se o nosso ícone da "sociedade alternativa" deu uma mancada dessa, nossa tarefa histórica é mesmo gigantesca.
Cheguei em Canudos as 10,45h, já acertada com o Guia Paulo Regis, que me esperava na entrada do Parque Estadual de Canudos.
Sol intenso, ele me ofereceu um chapéu, respondi que já tinha. Chapeu, água e muito filtro solar.
Começamos o roteiro pelo museu CASA DE VÓ IZABEL.
Regis é neto de Izabel, que por sua vez era filha de José de Regis, que tinha 10 anos na época da guerra, sendo uma das testemunhas do massacre que ajudou em muitos trabalhos de pesquisa sobre o tema.
Na casa, hoje com telhado novo, placa de energia solar e uma grande cisterna, vivem os pais de Paulo Regis, que não interagem som turistas. A sala da casa é um museu com itens do tempo da guerra.
A Casa Museu é um documento incrível não apenas da história familiar dos Regis, mas de suas conexões com a memória coletiva de Canudos, e seus conflitos passados e presentes.
Foi Izabel quem erigiu em 1945, o primeiro monumento em homenagem aos que lutaram em Canudos, um Cruzeiro.
Próximo ao Cruzeiro instalado por Izabel em 1945, a museografia feita por pesquisadores da Universidade Estadual da Bahia, instalou um círculo de totens de blindex que suportam imagens vazadas de rostos femininos, extraídos da icônica imagem realziada por Flávio de Barro, em 1987, que registra os que se renderam após a morte do Conselheiro. A maioria mulheres, que após o acordo de rendição, foram executadas sumariamente pelo exército brasileiro.
A montagem produz a funsão de semblantes inofensivos com a paisagem da terra que lhes pertenceu. Rostos e olhos femininos, cheios de força, medo e uma dignidade inalcançável aos seus inimigos de classe. Imagino o quão ameaçadora deve ter sido para generais olhar a face de mulheres que ousaram lutar.
Dia 15, saí de Canudos bem cedo,
rumo a Feira de Santana.
Peguei a BR 325, um horror.
Estrada totalmente esburracada,
não fiz imagens
é impossível desviar de burracos
e fazer registros ao
ao mesmo tempo.
O mais cansativo trecho da viagem.
Em Feira fiquei dia 15, 16 e 17
curtinho familia e descansando.
Pouco ví da cidade.
Dia 17 fiz um batidão
até Vitória da Conquista.
Rendeu bem a estrada.
Perto de Milagres, essas montanhas,
tem uma historinha na
minha vida viajeira.
Em 1998 eu passei por aqui,
era fim de tarde e que queria parrar
para ver as montanhas.
Mas, não
não houve acordo
entre eu e o motorista,
Dessa vez
parei e fotografei.
São lindas, merecem ser admiradas.













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