Penso
que desfile de Carnaval é um tipo de museu brincante produzido
coletivamente por sujeitos que expressam criativamente memórias e sonhos
sob a forma de músicas, danças, figurinos e múltiplas artes visuais. Um
cortejo festivo, ato máximo de um largo processo de trabalho, somatória
de corpos-territórios criadores e criaturas da arte, da história e do
desejo de brilho. Como já disse o poeta russo e um nosso baiano
tropicalizou: Gente é pra brilhar, não para morrer de fome.
Por
isso, nesses tempos pandêmicos, sem desfiles, faço
um convite para uma visita ao site do artista visual e sambista
campineiro Aluízio Jeremias http://aluizio.taina.org.br/sobre-aluizio/
As
obras pictóricas de Jeremias, iluminam parte significativa dos
corpos-memórias-territórios da cultura carnavalesca da primeira metade
do século XX em Campinas, destacadamente de matriz africana. São
criações especialmente produzidas para o Projeto Semba, organizado em
2012 pela Casa de Cultura Tainã, com curadoria de TC Silva.
O
Projeto Semba foi uma ação de re-existência da cultura negra, pela
recriação pictórica de personagens, espaços e práticas culturais de
grupos sociais oprimidos pela lógica cultural capitalista que, nos anos
1950/1970, por meio da reurbanização orquestrada pelo capital
imobiliário causou a desestruturação de territórios e comunidades
tradicionais afrolatinoamericanas.
Nesse
processo, parte das memórias sonoras e visuais do samba e do carnaval
popular foram desarticuladas e uma face musical embranquecida e
europeizada foi privilegiada nas publicações oficiais da cidade.
O
trabalho artístico de Jeremias tem como matriz suas memórias de menino
encantado com a cultura do povo negro, que pulsava nos casebres e
cortiços do baixo Cambuí, antes da gentrificação. Seus quados iluminam
faces da classe trabalhadora que construiu as modernidades da cidade
capital do café, mas não teve direito de usufruí-las. Jeremias nos
ensina, com suas cenas de desfile-museu-brincante, parte da história dos
negros da cidade.
O
artista Jeremias, também um corpo-memória-território-vivo, em suas
pinturas e em muitos de seus sambas deu carnatura aos territórios, às
faces, à gestualidade e à sonoridade de uma parcela da população que não
era reconhecida como sujeito da memória e como parte do mapa cultural
da cidade, em especial nos campos das artes visuais e dos museus de
arte.
Sem
dúvida o Projeto Semba, iniciativa da Casa de Cultura Tainã, foi uma
significativa ação contra-hegemônicas no campo das artes plásticas e da
museologia social em Campinas, pois viabilizou a realização dessas
imagens e as levou para exposição no Museu de Arte Contemporânea de
Campinas na Casa de Cultura Tainã, na Casa de Cultura Fazenda Roseiras e
no Museu de Imagem e e vídeos sobre o artista no Som de Campinas. As
ações do Projeto estão documentadas em https://tainamemoria.taina.net.br/.../dom.../projeto-semba ,http://aluizio.taina.org.br/
Fica a dica, caia na folia das redes da resistência nesse Carnaval.
Obs: Texto escrito em fevereiro de 2021.




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