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| Exposição Sobre Sub Solo, em Ubatuba. texto de divulgação |
A temática da luta por território, das memórias familiares e da criação de cartografias fundamentadas nos afetos e histórias fazem parte da instalação da artista contemporânea, que agora lança a circulação da exposição "Sobre Sub Solo".
O projeto, que agora irá dialogar com territórios diversos, irá criar novas instalações nos territórios que a artista chamou de “SEMEADOUROS”. A arte, as performances e a instalação criada por ela promovem a reflexão sobre evocações de memórias que revisitam seus deslocamentos e enraizamentos. Cada instalação será criada junto com as comunidades e trará elementos já colocados dentro de seus processos criativos, mapeados e co-criados junto com os locais por onde ela irá percorrer.
Neste trabalho, Andrea Mendes apresenta uma cartografia de resistências ao apagamento de uma gama de sensibilidades, que transitam de seu Nascedouro (Itaberaba - BA) para o seu Acolhedouro (Campinas - SP); que se recriam em seu Renascedouro (Araras, SP) e que se redescobrem conectadas com múltiplas culturas, na vivência em um Hospedadouro como artista convidada nas ocupações na comunidade de Bermudez, interior da Argentina. Em 2024, o projeto de circulação da exposição se propõe a visitar e construir novas histórias com comunidades quilombolas no estado de São Paulo. "A ideia de percorrer territórios quilombolas tem a ver totalmente com a minha relação com os territórios. Durante a pesquisa, eu me deparei com o entendimento de que os quatro territórios que eu percorri na primeira etapa do projeto estão pautados em lugares de luta, de ocupação e são territórios produtivos", salienta a artista e pesquisadora. O local onde Andrea Mendes nasceu, no município de Itaberaba, na Bahia, também era território quilombola, denominado de "Quilombo do Orobó". E, segundo ela, os lugares que permitiram a criação desta instalação são locais de resistência, pautados na luta. "Por conta disso, o meu desejo agora é fazer esse vínculo com os semeadouros é para poder criar uma conexão com os lugares que foram as primeiras ocupações no Brasil, que são os remanescentes de quilombos. As pessoas foram para esses locais e fortaleceram essa noção de construção coletiva, por um objetivo comum e todos os outros passam por esse mesmo percurso. Então, tudo está vinculado à minha história de vida, que eu cartografo na pesquisa, tem a ver com isso", completa Mendes.
CARTOGRAFIAS AFETIVAS QUE NARRAM MEMÓRIAS E RESISTÊNCIAS
O trabalho da instalação é pensado por meio das cartografias que Andrea já realizou e também através de vivências e atividades que serão organizadas junto com as três comunidades quilombolas listadas acima. "Sobre a cartografia, me interessa muito saber sobre a memória dessas pessoas, dessas comunidades, sobre a perspectiva das mulheres, porque eu, no meu entendimento, o matriarcado é pautado numa construção não só de organização social, mas muito no campo do afeto, do acolhimento", compartilha Mendes. Pensar e construir junto uma cartografia que conte as histórias de mulheres, suas narrativas de resistência, às memórias das mais velhas e mais velhos, seus modos de vida, de pensar e de construir a luta dentro dos seus territórios é também um dos objetivos dessa circulação. "Me interessa pensar de onde essas mulheres vieram, quais são as inspirações delas, estabelecendo uma relação com o passado, com o presente e também com o futuro e é isso que me motiva a traçar essa cartografia", conta Andrea Mendes. De acordo com a curadora Sônia Fardin, curadora da exposição "o traço comum das imagens que registram as vivências e as atuações criativas de Andrea Mendes são a face altiva da classe trabalhadora brasileira e latino-americana, juntamente com suas diversas formas de enfrentar as violências coloniais ainda presentes nas comunidades centenárias de luta, sejam elas rurais e urbanas. Nas construções artísticas são utilizadas pinturas, instalações, desenhos e vídeos que documentam suas performances. Realizadas entre outubro de 2019 e dezembro de 2021, a artista fez uso de fios e traços, tintas e linhas, rasgos e costuras, gestos e olhares, para, dialeticamente, frisar e esgarçar as barreiras e limites impostos pelas forças do capital, que de leste a oeste e de norte a sul, sob formas diversas, há séculos vêm rasgando a carne e sufocando as vozes dos que se levantam contra as opressões às formas comunitárias de organização da vida."
PIPAS NO CÉU DAS COMUNIDADES
Para simbolizar esse percurso cartográfico, a artista escolheu a pipa como símbolo de seus deslocamentos por territórios e fez dela o suporte das imagens que registram suas vivências e atuações. “Para as crianças que vivem em comunidade e sobrevivem rompendo as adversidades cotidianas, a criatividade nas brincadeiras é, com certeza, a maior beleza. Com toda limitação de espaço, falta de praças, parques e campos, a rua se torna o espaço de socialização e lazer, seja ela de terra batida ou de asfalto, tornando-se quadra de futebol, pista de carrinho de rolimãs, pipódromo", pontua Mendes. De acordo com ela, esse elemento é importante por se tratar de algo comum aos diversos lugares por onde ela passa e, em grande parte das comunidades, o costume de "soltar pipa" vai além das infâncias, pois ela é acolhida por crianças e adultos.
“SOBRE SUB SOLO” EM UBATUBA:
O primeiro pouso de Andrea será no Quilombo da Fazenda em Ubatuba, e a exposição será realizada no Teatro Municipal, com data de estreia no mês de abril de 2024 e ficará aberta à visitação de 18 de abril a 10 de maio. Este projeto é realizado por meio do Prêmio do Edital ProAC 13/2023 Artes Visuais - Circulação de Exposição, do Governo do Estado de São Paulo.
SOBRE ANDREA MENDES:
Andrea Aparecida de Jesus Mendes, nome artístico Andrea Mendes, é uma artista preta, retirante nordestina do sertão baiano, nascida em Itaberaba (BA) em 1979. Tem Campinas como sua segunda morada e o mundo como solo hospedeiro. Graduada em Artes Visuais pela PUC Campinas (SP), é mestranda no CEFET – Rio de Janeiro (RJ). Transita entre a arte e o ativismo, entre o permanecer e o deslocar, entre dor e cura, trazendo para o seu trabalho um olhar crítico sobre temas que a atravessam cotidianamente, expondo as fissuras do sistema social brasileiro que ainda se mantém escorado nas muletas coloniais. Seu artivismo envolve relações de experiência corporal com o espaço que ocupa, gerando tensões poéticas. Suas investigações transitam entre o individual, coletivo e subjetivo. Entre as linguagens de interesse da artista destacam-se a performance, a instalação e pinturas em grandes formatos.
CONTATOS:
Produção local e comunicação: Vanessa Cancian - 12-98117-3657
SERVIÇO:
O quê: Exposição “Sobre Sub Solo”
Artista: Andrea Mendes
Curadora: Sônia Fardin
Quando: 18 de abril a 10 de maio
Visitação: Segunda a sexta-feira - das 9h às 12h / das 13h às 17h
Onde: Teatro Municipal de Ubatuba
Endereço: Av. Benjamin Constant, 1633 - Centro, Campinas - SP, 13010-142, Brasil
Instagram: @sobresubsolo
Agendamento com visita guiada: pelo e-mail sobresubsolo@gmail.com ou pelo telefone/whatsApp 19 99118-0337 (Paula)
