
Não era para eu ir ao Palácio dos Azulejos naquela manhã de março de 2001. Estava de férias, mas precisei ir buscar a filmadora que havia esquecido em minha sala de trabalho.
Cheguei muito cedo, peguei a câmera e quando estava saindo do prédio
encontrei o prefeito Toninho do PT, acompanhado de alguns assessores,
que ao me ver disse: "Bom dia, vamos abrir o Palácio! Entra comigo".
Eu não fazia ideia do que ia acontecer, mas, aceitei o convite, liguei a
filmadora e o segui.
Toninho entrou e foi abrindo as portas e janelas
da sala que foi ocupada como gabinete oficial dos prefeitos de Campinas
entre 1908 e 1968.
Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT, era arquiteto e militante
político, mas, principalmente, um conhecedor da história e das questões
políticas, sociais e econômicas de Campinas. Por isso, naquela manhã de
março de 2001, pouco mais de dois meses após tomar posse como prefeito,
organizou um ato singelo para marcar a forma como sua gestão se
diferenciaria das anteriores.
Não por acaso o lugar deste ato foi o Palácio dos Azulejos.
Com fachada imponente, o palacete foi construído pela elite cafeeira em
1878, um símbolo de luxo e ostentação do baronato; em 1908 foi vendido
para a municipalidade e passou a ser local do gabinete dos prefeitos
republicanos. Com o crescimento urbano, o Palácio passou a ser de fácil acesso à população.
No final da década de 1960, com a ditadura e o recrudescimento das lutas
sociais, os dirigentes públicos decidiram transferir a sede da
prefeitura para um lugar afastado da rua, longe dos olhos e das vozes da
população.
Foi construído então outro palácio, o dos Jequitibás, localizado em
terreno recuado do passeio público, com o gabinete do prefeito instalado
muitos metros longe da rua.
No
entanto, este outro gabinete não escapou das lutas de resistência;
nas décadas de 1970 e 1980, os integrantes da Assembleia do Povo -
movimento por moradia e participação popular na gestão pública -
periodicamente ocupavam as escadarias e a entrada do novo Palácio. O
jovem arquiteto e militante Toninho estava entre eles, vivenciou a
força das ações simbólicas, como estratégia para fazer luta política
pelo direito de todos
à vida digna e à participação nas decisões públicas.
Em razão disso, em 2001, quando foi eleito prefeito escolheu reverter o
significado dos dois Palácios: o dos Azulejos, edificação que
exemplifica o poder da elite, e o dos Jequitibás, que materializa o
distanciamento dos gestores públicos da defesa dos direitos da
população.
Neste propósito, um dos seus primeiros atos públicos foi a instalação de
um gabinete mais próximo do povo; além do já existente no terceiro
andar do Palácio dos Jequitibás, na Av. Anchieta, instalou um outro, no
Palácio dos Azulejos, na mesma sala ocupada pelos prefeitos em décadas
passadas, cujas janelas ficam rente à calçada da Rua Ferreira Penteado,
no centro da cidade.
Ao instalar esta outra sala de trabalho e abrir suas janelas coladas na
rua, Toninho não almejava somente uma simbólica mudança de endereço, mas
sim transformar as reais formas de ocupar o lugar de poder e a função
pública de prefeito, para realizar mudanças concretas nas práticas
políticas na cidade.
Seu ato sintetizou a decisão de ampliar e garantir o poder popular na
gestão da cidade e dos recursos públicos.
Toninho foi assassinado em 10 de setembro de 2001, mas o significado do
ato feito por ele naquela manhã de março de 2001 continuou vivo.
Após 20
anos de seu assassinato, seu gesto permanece vivo em todos os que seguem clamando por justiça e lutando por poder
popular e uma sociedade igualitária.
A LUTA CONTINUA. TONINHO, PRESENTE, HOJE E SEMPRE!
obs: Esse meu texto é antigo, mas nossa luta também! Virou uma cerimonia anual em homenagem a todos os que seguem a luta por justiça.
Sônia Aparecida Fardin
obs: Esse meu texto é antigo, mas nossa luta também! Virou uma cerimonia anual em homenagem a todos os que seguem a luta por justiça.
- 01 de janeiro de 2001, tomam posse Antônio da Costa Santos (Toninho do
PT) e Izalene Tiene - prefeito e vice de Campinas.
- 04 de março de 2001, Toninho abre as portas do Palácio dos Azulejos
como espaço público.
- 15 de março de 2001, Toninho anuncia a abertura da antiga estação como
espaço público municipal.
- 10 de setembro de 2001, é assassinado Antônio da Costa Santos.
- 11 de agosto de 2002,a prefeita Izalene Tiene, o secretário de cultura Valter
Pomar e os trabalhadores da Secretaŕia de Cultura inauguram a Estação
Cultura, espaço público de cultura, educação, lazer e memória.
- 10 de setembro de 2004, Izalene Tiene, o secretário de cultura Valter
Pomar e os trabalhadores da área de Memória e Patrimônio da Secretaria
de Cultura inauguram o Palácio dos Azulejos - sede do Museu da Imagem e
do Som, espaço público de memória e lutas sociais.
TONINHO ABRINDO AS PORTAS DO PALÁCIO