sexta-feira, 12 de março de 2021

 NÃO É IRONIA, É TRAGEDIA

Hoje faz um ano que entrei em quarentena.
Havia chegado do carnaval em Recife no dia 5/3, foi ótimo: muita muvuca, aglomeração e alegria. Fui ao ato do dia das mulheres no Largo Marielle Franco no dia 07/03, foi lindo; me organizava para ir ao um ato Fora Bolsonaro na Paulista no dia 14/03.
Nesse meio tempo, dia 12/03 foi muito triste, fui ao sepultamento de uma amigo, um dos mais competentes historiadores que conheci em Campinas, estava internado há meses tratando-se de um câncer. Grande perda. Foi nessa ocasião que abracei amigos pela última vez, até agora.
Ao sair do cemitério ouvi num dos grupos de ZAP o famoso áudio de um médico que rodou o Brasil alertando sobre o vírus desconhecido, informando que sabiam que o quadro era sério e muito grave. Havia verdade e temor em sua voz. Foi a primeira vez que me inteirei do assunto pandemia.
Recordo exatamente a sensação estranha vivida no caminho para casa: passei no banco, na farmácia, no supermercado e no posto de gasolina. Abasteci caixa de remédios, geladeira e tudo o mais que significava ter condições de passar três semanas em casa sozinha, até o perigo passar.
A cabeça tentando entender a abrupta mudança: dos esfregas das ruas pernambucanas para o total distanciamento social. Ilusoriamente avaliei: tenho muito o que fazer em casa, seguro esse onda. Veio que veio, a manifestação do dia 14/03 foi acertamento cancelada, a primeira de muitas.
Hoje, o tal áudio do médico que ouvi há um ano, que chegou a ser tachado de alarmista e inapropriado, está ainda mais atual.
Hoje, 12 de março de 2021, os fatos são aterrorizantes. Não são apenas áudios com previsões de um cientista.
Hoje, como há um ano fui ao mercado, a farmácia e ao posto de gasolina para cuidar de tudo o que me pode ser necessário para mim e minha mãe nos próximo quinze dias.
Ironia? Coincidência? Não, nem uma coisa nem outra.
Agora sabemos que não há solução em quinze dias, que se fizermos a coisa certa faremos lockdown, mas isso ainda não basta. As 270 mil mortes nos lembram que não basta, 40 milhões de desempregados nos lembram que não basta.
Sim, é urgente lutarmos para evitar os ciclos de mortes. Mas é indispensável lutarmos ainda mais para ampliar verdadeiramente a vida.
Esse repetição não é ironia, é tragédia.
Essa tragédia tem um nome: capitalismo.
Para começar a conter as mortes e ampliar a vida: FORA BOLSONARO, VACINA JÁ, MOBILIZAÇÃO CONSTANTE, ELEIÇÕES JUSTAS JÁ!